Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

sábado, 19 de junho de 2010

NEPAL

De Bangkok decidi voar para Kathmandu, Nepal.
Já não tenho folhas inteiramente livres no passaporte pois muitos dos vistos dos países que visitei ocuparam página inteira. Tentei resolver o assunto na embaixada de Portugal em Bangkok que, à boa maneira portuguesa, em vez de ajudar complicou. Dirigi-me então à embaixada do Nepal que, rapidamente e sem burocracias, me colocou um visto prolongado em meia folha...
O aeroporto de Kathmandu já era um espaço familiar. As primeiras visitas ao Nepal, em 2005 e 2006, estão relatadas aqui, no meu outro blogue "Viagem Partilhada".
Em Kathmandu encontrei-me com o Ali, um britânico que conhecera há cerca de 2 anos em Portugal. O Ali trabalha em genética a partir do seu computador, tem uma empresa criada por ele próprio, o que lhe permite viver em qualquer parte do mundo. Depois de Portugal, Japão e Índia está agora no Nepal por uns tempos.
Nessa mesma noite em que cheguei à capital, havia um encontro CS organizado pelo Vishnu, um nepalês muito simpático e prestativo que trabalha numa agência de viagens. O encontro decorreu no terraço do restaurante Happy Valley gerido pela Sophie, uma francesa que se fixou em Kathmandu.
Foi lá que conheci também o Pawell, um russo que já tinha ouvido falar de mim na Sibéria! Ah ah ah!!! Por vezes o mundo parece mesmo muito pequeno.
Fiquei então a saber que, a partir do dia seguinte, haveria protestos em Kathmandu e por todo o país. Ora, depois das bombas que explodiram em Yangon quando deixei Myanmar e dos incidentes com os red-shirts na Tailândia quando cheguei a Bangkok, comecei a achar que a minha presença era portadora de sarilhos, o que me conferiu uma sensação deveras desconfortável...
Mais de 150,000 manifestantes encheram as ruas de Kathmandu, depois de um ano de constante declínio de popularidade do novo governo constituído por uma coligação de 14 partidos e do impasse no processo de criação de uma nova constituição. O Partido Comunista Maoista, que representa um terço da assembleia, convocou membros de todos os cantos do país para uma demonstração de descontentamento na capital.
Liderança maoista

Camaradas do partido e camponeses, armados com paus e bandeiras, juntaram-se em gritos políticos pedindo a demissão do governo e a entrega do posto de primeiro ministro a Pushpa Kamal Dahal, o líder maoista, mais conhecido como Prachanda.
O governo destacou mais de 15,000 polícias para a segurança de vários pontos estratégicos.
Todo o comércio fechou e instalou-se a greve, forçada pelos maoistas, com ameaças e pressões.
Vai daí, o Ali sugeriu que alugássemos uma scooter para sair da confusão, pelo menos durante o fim de semana, esperando que a situação acalmasse na capital.

Deixámos o Vale de Kathmandu e fomos montanha acima, em direcção a Trisuli.

A subida, a paisagem, o ar puro e o tempo quente exigiam algumas paragens e o descanso do condutor.
E deparamo-nos com as belezas naturais do país e o povo simples, simpático e acolhedor que nos faz sentir tão bem.


Campos de arroz em socalcos
Quando regressámos a Kathmandu, a situação estava ainda pior. Fora decretada greve geral no comércio, indústria e transportes até o governo ceder aos protestos. O povo estava na rua, a pé, só era permitida a circulação de bicicletas e veículos de emergência. Várias estradas bloqueadas.
Os protestos continuavam e ninguém sabia por quanto tempo.
Pelo menos, não foi decretado o recolher obrigatório como da última vez que cá estive, em 2006. Podíamos andar pelas ruas e visitar, por exemplo, a belíssima Durbar Square, cheia de templos ricamente esculpidos.
Mas tínhamos que nos 'desunhar' para encontrar um restaurante aberto onde pudéssemos comer. Membros do partido maoista percorriam as ruas da cidade pedindo doações extravagantes de 5.000 a 50.000 rupias a quem mantivesse o negócio aberto. Tomara a maior parte das pessoas aqui fazer 500 rupias por dia (não chega a 5 euros)...
Os que não pagavam nem fechavam os estabelecimentos eram ameaçados com fogo, vandalismo e agressões, como aconteceu em alguns restaurantes onde se encontravam turistas. A Sophie também foi ameaçada por telefone e decidiu fechar o restaurante. Jantávamos às escondidas...
Cheguei ao Nepal há mais de um mês.
É aqui que me encontro.

4 comentários:

  1. Olá Marília! Adoro a tua viagem incógnita, tão bem documentada sempre que é como se viajassemos contigo. Obrigada. Um abraço grande. Zita

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  2. Obrigada pelas tuas palavras, Zita, fico contente por me acompanhares. Um grande xi-coração para ti.

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  3. Olá Lya,

    Descobri o teu blog através do forum Voltaomundo e estou fascinado por esta tua viagem... já são 4h da manhã e não consigo parar de ler... tenho que quer dormir! :)

    Fiquei intrigado com o Ali, o tal britanico que trabalha em genetica... a partir do seu computador! Que sorte! Nem pensava que tal seria possivel?!?!?

    Continuação de excelente viagem... amanhã vou continuar a ler o resto! :)

    bjos
    moreira

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  4. Obrigada Moreira, quem sabe não nos conheceremos um dia num qualquer convivio VM... Um abraço

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